O que é Diaspora.Black e qual é a sua proposta?

Diaspora.Black é uma startup brasileira que permite aos viajantes vivenciar a cultura negra por meio de roteiros turísticos, acomodações e experiências. “Mais do que o consumo de viagens, trabalhamos com turismo de impacto, que promove a geração de renda, valoriza o conhecimento da comunidade, e une, faz pontes entre nossa tradição cultural e pessoas que buscam experiências transformadoras”, afirma o Diretor-Geral do empresa, Carlos Humberto Silva.

A plataforma reúne em seu canal de vendas serviços focados na cultura negra em diferentes territórios para aproximá-los dos viajantes. O objetivo da empresa é tornar o turismo mais diversificado, de pessoas e territórios, aumentando a visibilidade dos atrativos culturais e patrimoniais ligados à população negra.

Onde eles estão presentes?

Em quatro anos de atuação, a Diaspora.Black se tornou a principal rede de turismo afro da América Latina e expandiu sua atuação em toda a região, estando presente em mais de 150 cidades da América Latina. Atualmente recebe hospedeiros e viajantes de países como Colômbia, Uruguai, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Itália, França, Guiné Bissau, Cabo Verde, Moçambique e Angola.

Nesses locais, a empresa promove a oferta de hospedagem compartilhada ou comercial, além de experiências turísticas imersivas, como pacotes de viagens, passeios e experiências guiadas, com o objetivo de conectar todos os interessados ​​em conhecer a riqueza da cultura negra de a região.

Como o Diaspora.Black começou? Qual foi a história e a motivação por trás desse empreendimento?

Carlos Humberto conta-nos que o Diaspora.Black começou a funcionar como tal em 2017, mas já existia como ideia há muitos anos, depois de ter vivenciado o racismo em várias situações durante as suas viagens, como na recepção de um hotel e nos locais que o visitava. “Em 2016 fiz uma viagem à América Latina como parte de um projeto sobre juventude, adorei a herança afro da região e percebi a invisibilidade desse legado no turismo”, afirma. Essa experiência fez com que ele entendesse que havia uma oportunidade de conectar pessoas interessadas em viver esses legados de forma autêntica e com a segurança de um serviço sem discriminação. Daí a principal motivação da Diaspora.Black em promover um maior conhecimento sobre a cultura diaspórica e a possibilidade de vivê-la e valorizá-la.

Quais são alguns exemplos dos serviços e experiências que você oferece?

Os seus serviços são orientados pelo sentido de pertinência, valorização cultural e identitária e promoção da igualdade. As experiências têm saídas regulares e são oferecidas por guias e profissionais locais, especialistas em afro-turismo selecionados pela Diaspora.Black.

Entre as opções oferecidas estão visitas a casas tradicionais de candomblé, vivências em quilombos, além de viagens nacionais e internacionais. O modelo valoriza o turismo sustentável e comunitário e também incentiva a geração de renda e riqueza para afro-empreendedores ligados ao turismo e à economia criativa – principalmente as mulheres negras, que representam 70% dos hospedeiros de hospedagem, roteiros e atividades culturais.

“Reconectando as memórias das populações negras, podemos escrever uma nova narrativa sobre a contribuição histórica das populações negras, seja em Ouidah (Benin) – berço da tradição iorubá – ou em Cartagena ou Salvador, onde essa população deu forma a parte da cultura local”, resume Antonio Pita, cofundador da startup.

Quais foram os maiores desafios que enfrentou nestes 4 anos desde o lançamento do Diaspora.Black?

Diaspora.Black experimentou muitos desafios, especialmente no desenvolvimento de tecnologia. Mas o maior desafio sem dúvida tem sido o investimento, que para o empresário negro sempre é muito escasso e, no caso do Brasil, com até 3 vezes mais possibilidades de ser negado. Essa é uma face do racismo, que também é o desafio enfrentado ao se considerar a valorização da cultura negra em determinados espaços e segmentos, como o empreendedorismo, a inovação e o turismo. Demonstrar a riqueza e o potencial dos legados culturais como uma possibilidade verdadeiramente atrativa para a retomada do turismo permanece um desafio quando as pessoas do setor não desejam ver oportunidades inovadoras.

Como o Diaspora.Black lidou com a pandemia COVID-19?

Durante a pandemia, quando o setor de turismo sofreu perdas de mais de US $ 100 bilhões, o Diaspora.Black adaptou seu modelo sem perder sua essência. A empresa se dispôs a ajudar na transformação digital dos empreendedores com quem atua, com uma nova plataforma de roteiros turísticos online, ampliando o acesso a locais históricos da comunidade negra, como o bairro da Liberdade, em São Paulo, e a Pequena África, em Rio de Janeiro.

“Dançar, sentir, improvisar e seguir o fluxo da intuição é uma das principais características do nosso povo, foi surpreendente fazer essas conexões em uma experiência online”, diz Nathalia Cruz, uma das participantes das atividades online.

Além dos passeios online, a plataforma passou a oferecer atividades culturais e cursos online com intelectuais e lideranças da cultura afro-brasileira. Para viajantes e hóspedes, oferecem novos protocolos de hospedagem e a opção de facilitar o planejamento de viagens, com um programa de cotas especial para pacotes sem data fixa.

“Entendemos que, apesar das restrições às viagens, nossa comunidade queria continuar vivenciando experiências enriquecedoras sobre a cultura negra e a memória de diferentes cidades, sotaques e matrizes”, afirma a executiva de Marketing Cintia Ramos.

Que recomendações e conselhos você daria a outros empresários que, como o Diaspora.Black, querem apostar em negócios que promovam a inclusão e a diversidade na América Latina?

Uma primeira recomendação é persistir. Embora existam dificuldades, é importante considerar a força de nossas conquistas. A segunda mensagem é que os valores de inclusão e promoção da diversidade são demandas sociais que terão cada vez mais espaço nos mais diversos mercados. Terceiro, vinculado ao acima, ainda existem muitas oportunidades e riquezas a serem construídas com o desenvolvimento da comunidade negra em mente. Certamente, muitas dessas oportunidades serão lideradas por pessoas que vivem as experiências da cultura negra latino-americana.